terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sociedade e Meio ambiente

A pós-modernidade, iniciada a partir da segunda metade do século XX trouxe consigo inúmeras mudanças. Contrapondo-se aos principais conceitos que caracterizaram a modernidade, profundas mudanças paradigmáticas se deram nos ambientes sociais e institucionais. A nova forma de ver o mundo a partir dos paradigmas da pós-modernidade se baseou na contraposição da crença à verdade, à razão e à linearidade dos processos. A noção de espaço e tempo foi modificada por fatores como o avanço tecnológico sem precedentes, principalmente nas áreas de transportes e comunicação, e o fenômeno da globalização. A nova forma de ver o mundo valoriza o indivíduo em seu ambiente social e cultural. Sua identidade o referencia, assim como o ambiente em que está inserido (Gatti, 2005; Gallo, 2006).
A preocupação com o potencial da interferência da ação humana sobre meio ambiente e os conseqüentes efeitos gerados, tornando vulnerável sua própria existência humana, motivou grandes conferências internacionais realizadas ao longo das últimas quatro décadas. De um modo geral, pode-se afirmar que, durante este período diferentes nações passaram a incorporar os princípios e diretrizes gerados nestes eventos. No Brasil, diferentes setores como transportes, saúde, educação e economia já estão diretamente influenciados por esta tendência, isto é, inúmeras políticas públicas e privadas já foram desenvolvidas e estão sendo implementadas e executadas.
A Agenda 21, um dos principais documentos obtidos na Eco-92, pactuou entre os países signatários o compromisso, baseado no conceito de desenvolvimento sustentável, de estudo e busca para soluções dos problemas sócio-ambientais. Esse conceito surge como contraponto aos tradicionais modelos de desenvolvimento econômico, caracterizados pelos fortes impactos negativos à sociedade e ao meio ambiente (CNUMAD 1996). O desenvolvimento passa a utilizar, de forma sustentável, os recursos naturais no provimento do sistema produtivo para a produção de bens de consumo e de capital, propiciando bem-estar ou utilidade à população a uma taxa de uso, desses recursos, não maior que a capacidade regenerativa do meio ambiente (Pearce & Turner 1991).
O reconhecimento nas diferentes dimensões dos problemas sócio-ambientais inerentes à contínua busca de crescimento econômico determina que repercussões e impactos negativos refletidos sobre os grupos sociais e o meio ambiente passem a ser, identificados como custos econômicos expressivos, anteriormente desprezados. A tarefa de reconhecer e minimizar esses custos representa uma excelente oportunidade para transformar as práticas de desenvolvimento econômico em todo o mundo, criando condições propícias para a implementação do desenvolvimento sustentável.
Atualmente um terço da população mundial vive em países que já sofrem com problemas relacionados ao abastecimento de água. Com o crescimento populacional, principal fator agravante dessa crise, estima-se que nos próximos 25 anos cerca de dois terços da população do mundo esteja passando por problemas semelhantes. Uma estimativa ainda mais alarmante, faz o prognóstico da necessidade de incremento de aproximadamente 40% na quantidade dos recursos hídricos para acompanhar tal crescimento populacional, sendo 17% exclusivamente voltados para a produção de alimentos. (World Water Council 2000).
O acesso e disponibilidade da água em quantidade e qualidade adequadas para produção e ingestão de alimentos, bem como para medidas sanitárias e higiene pessoal, são reconhecidos como condições fundamentais (United Nations 1999,2000). Apesar dos recursos hídricos serem motivo de preocupação mundial, a situação brasileira ainda é confortável. O Brasil encontra-se, junto com poucos países, classificado na sub-região com maior disponibilidade de água por habitante, com cerca de 20.000m3 per capita/ano (UNEP, 2002).
Problemas de qualidade de água podem freqüentemente ser tão severos quanto aqueles relativos à disponibilidade desse recurso. Regiões localizadas em países em desenvolvimento são caracterizadas por sua pouca atenção dada ao assunto e os custos relativos desse pouco interesse vem sendo dimensionado e, associado à incidência de doenças veiculadas pela água ou a ela relacionadas. Doenças como dengue, malária, febre amarela e esquistossomos e são alguns exemplos de doenças de grande impacto mundial sobre a saúde humana e que têm na água um de seus principais condicionantes ambientais. A transmissão dessas doenças ao homem se dá através de vetores, geralmente insetos, que utilizam a água como substrato de parte de seu ciclo de desenvolvimento. Alguns gêneros de mosquitos, como os anofelinos e culicídeos, por exemplo, podem utilizar ambientes naturais como rios e córregos ou ambientes artificiais, com disponibilidade de água sem-ipermanente, como, por exemplo, pneus e marcas de pneu, pegadas, tanques e esgotos, para seus criadouros (Consoli & Oliveira 1998, Oliveira 2001).
No entanto, nem só os agentes infecciosos põem em risco à saúde humana ou o meio ambiente. Diferentes tipos de poluentes como, esgotos não tratados, descargas químicas, vazamentos e derramamentos de petróleo, desativação de minas e agrotóxicos contribuem diariamente na contaminação dos recursos hídricos (World Comission on Water 1999).
Uma característica do desenvolvimento sustentável está na condição de que cada indivíduo constitua um ator, provedor de informação passível de ser utilizada no processo de construção participativa (Funtowicz & Ravetz 1994). A informação representa condição sine qua non para a tomada de decisão, nos diferentes níveis, seja ele internacional, nacional, comunitário ou inclusive individual (CNUMAD 1996). No entanto, para que as informações possam realmente servir de base aos processos decisórios alguns fatores precisam ser considerados. A complexidade dos ambientes e, por conseguinte, os componentes de interferência em sua dinâmica normalmente são analisados segundo os diferentes setores de conhecimento (Rapport 1998 a, 1998b).
Estudos analíticos dos sistemas ambientais normalmente dissociam dimensões biofísicas e socio-econômicas do impacto sobre a saúde humana, assim como, pesquisas geralmente deixam de considerar diferentes escalas espaciais e temporais desses sistemas (Rapport 1998c). Por outro lado, a incorporação dos valores sociais às abordagens dos sistemas ambientais permite explorar diferentes interfaces a outras áreas de investigação. Um exemplo disto é a incorporação dos valores sociais em estudos analíticos que acabam por predizerem sua importância sobre decisões, incentivos, regulações e leis ditadas sobre as transformações e disfunções dos sistemas ambientais (Rapport 1998d).

Fonte (imagens): siam.fc.ul.pt.jpg e blogueco.wordpress.com.jpg - acessados em 08/09/2010

Um comentário: